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sábado, 21 de junho de 2008

Falso cheesecake e a falta que faz o iogurte grego...



Nem tudo é perfeito no reino de Ana Elisa. Não adianta quantas vezes recomende isso aos outros, sempre faço o oposto e testo receitas novas quando tenho visitas. Claro que isso pode acarretar conseqüências ligeiramente desastrosas às vezes. Ainda bem que, desta vez, as tais conseqüências foram apenas parcialmente calamitosas.

Um casal de amigos viria jantar em casa ontem à noite. A idéia original era pedir uma pizza, mas deus sabe que não me contenho, e resolvi preparar um panelão de orecchiette, como na Páscoa, e um cheesecake de iogurte que eu vira em uma revista Blue Cooking certa vez.

A sobremesa foi preparada na véspera, pois se tratava de um daqueles falsos cheesecakes, que não são assados. Geralmente torço o nariz para eles, mas decidi que em minha mente chama-lo-ia de "pudim de iogurte" e ficaria tudo bem. Mesmo porque queria mesmo uma sobremesa mais leve, depois de um jantar de massa e queijo.

O preparo não poderia ser mais fácil. Misturam-se os biscoitos à manteiga para a base, que vai à geladeira enquanto você bate todos os outros ingredientes na batedeira, apenas para derramar o creme na forma e gelá-lo até que assente, de um dia para o outro.

No entanto (já que sempre há uma adversativa em minhas histórias), apesar de ter escolhido o iogurte mais firme disponível nas gôndolas do supermercado, as 4 míseras folhas de gelatina não foram suficientes para firmar o creme. Assim que retirei o aro da forma, vi, horrorizada, rachaduras formarem-se sobre sua superfície branca, aprofundando-se e causando quedas abruptas de enormes pedaços, em toda a circunferência do doce, como geleiras canadenses despedaçando-se em frente a turistas atônitos.

Mas quem estava atônita era eu.

O horror! Ah, a humanidade! O que fazer com aquela grande massa branca e disforme?

Retirei os pedaços perdidos com uma colher, tentando escavar no doce ainda uma forma arredondada, mas desistindo, uma vez que o mero toque da colher causava novas rachaduras na sua parte antes ainda incólume.

Senti-me de imediato uma idiota por ter colocado o plástico embaixo da massa, como aconselhado na receita. Eu nunca, nunca, NUNCA conseguiria retirá-lo dali sem terminar de destroçar o cheesecake. Logo, o monstrengo foi com base da forma de metal e filme plástico direto para o prato de servir, trêmulo, frágil. Temia espalhar sobre ele o mel e os pistaches, acreditando que nem mesmo essa delicadeza ele suportasse.

Servir aquilo foi em parte uma vergonha, pois a aparência desmazelada era muito pouco apetitosa. Pior ainda ter pedaços de filme plástico melecados de iogurte prendendo-se à colher de servir. Em tempo: não fossem antigos e compreensivos os amigos, teria poupado minha reputação desse vexame.

No entanto, a noite foi salva pelo fato de o doce ter ficado... gostoso! E não é que houve até repetições? Allex deu a solução perfeita, ainda que tardia: "Da próxima vez, desencane do prato e sirva direto em taças. Ninguém nem ia perceber."

De fato, o iogurte, o mel, os biscoitos, os pistaches, a laranja, todos os ingredientes se amalgamaram com perfeição numa sobremesa leve, refrescante e aromática. Pergunto-me se uma ou duas folhas de gelatina a mais não solucionariam o problema. De qualquer forma, acredito ter resolvido minha aflição com cheesecakes: nunca ninguém conseguiu me explicar o que são os graham crackers usados na base, e mesmo fontes confiáveis dizem apenas "biscoitos digestivos feitos de graham flour". Isso não ajuda muito. E nunca gostei de usar bolachas Maria, pois acho que ficam muito doces com o recheio rico do cheesecake. Testei e aprovei o resultado: cream crackers. Funcionam maravilhosamente bem como uma massa leve, sequinha e neutra para contrabalançar um cheesecake doce e rico.

Bem, nada se perde...

P.S.: difícil mesmo foi encontrar uma marca de iogurte integral que prestasse. A maioria usa leite desnatado ao invés de leite integral, e espessantes para tornar o iogurte mais firme. De dar nojo. Preciso voltar a fazer meu próprio iogurte, urgente.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

VÍTIMAS CULINÁRIAS 4: cookies sensacionais para o mais analfabeto dos cozinheiros

Uni agradavelmente minha recente vontade de fazer cookies ao apetite de meus colegas de corrida. Eu lhes prometi que levaria quitutes amanhã, e me pus logo a procurar uma receita de cookies que superasse a última batelada que lhes levara. Fui a meu livro mais confiável e a foto (a única de todo o capítulo) dos Double Chocolate Macadamia Chunk Cookies me conquistou com sua cor castanha intensa pontilhada de branco e dourado. Fiz muito poucas adaptações à receita, de acordo com o que havia na despensa e com meus caprichos.

Estes são sem sombra de dúvida os cookies mais deliciosamente intensos, e ao mesmo tempo mais ridiculamente fáceis que já provei. A massa feita de muito chocolate amargo derretido e cacau em pó fica escura, intensa, macia, derretendo na boca. O que lhe adiciona profundidade e um toque extra de doçura são, respectivamente, as castanhas de caju sem sal e o chocolate branco, crocantes. Com certeza encontrei um novo favorito.

No que se refere à produção, que tal fazer cookies que não requerem nem batedeiras nem braços fortes? Basta uma colher. É inclusive aconselhável que não se misture demais a massa. Podia ser mais fácil? Esses são os doces perfeitos para um cozinheiro de primeira viagem ou para crianças. Mas peço encarecidamente para que sejam usados ingredientes de qualidade: um chocolate tipo cobertura que não tenha cacau suficiente pode deixar o cookie doce demais. Mas, até aí, há quem goste de qualquer coisa.

Os biscoitos já estão devidamente guardados, esperando para serem devorados amanhã de manhã. E azar de quem faltar no treino...

COOKIES DE CHOCOLATE COM CASTANHAS DE CAJU
(Ligeiramente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 30 cookies de 5cm de diâmetro


Ingredientes:
  • 250g de chocolate amargo com 50% de cacau
  • 85g de manteiga sem sal
  • 45g de açúcar cristal orgânico
  • 1 ovo extra-grande orgânico
  • 2 pitadas de sal
  • 125g de farinha de trigo
  • 10g de cacau em pó de qualidade (NÃO use chocolate em pó)
  • 3g de fermento químico em pó
  • 95g de chocolate branco de qualidade picado (que tenha como única gordura a manteiga de cacau)
  • 45g de castanhas de caju SEM SAL picadas
Preparo:
  1. Derreta o chocolate amargo e a manteiga em banho maria e reserve.
  2. Misture em uma tigela grande o ovo, o açúcar e o sal, apenas até que fique homogêneo. (Não deixe que espume, ou o cookie crescerá muito e ficará esfarelento demais.) Junte o chocolate derretido e misture.
  3. Peneire a farinha, o cacau e o fermento e misture ao chocolate, incorporando bem. Junte as castanhas e o chocolate branco e mexa até que fiquem bem espalhados na massa, que parecerá um pouco com massa de brownies.
  4. Forre uma assadeira bem grande com papel-manteiga e, com a ajuda de uma colher de sopa, disponha os pedaços de massa, uns 3-4cm distantes umas das outras. Você pode fazê-los menores, com uma colher de chá. Faça isso rapidamente, pois a massa endurece conforme passa o tempo.
  5. Com as costas de uma colher ou o socador de um pilão, pressione ligeiramente os pedaços de massa para que fiquem com 1cm de altura. Leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 15 minutos (10 minutos, de os biscoitos forem menores).
  6. Retire do forno. Os biscoitos parecerão secos na superfície, sem aquele aspecto brilhante de massa crua, mas estarão bastante moles. Deixe-os na assadeira por 5 minutos (longe de correntes de ar, pois elas podem rachar os cookies) e então retire-os cuidadosamente com uma espátula fina de metal, deixando que terminem de esfriar sobre uma grade. Quando frios, guarde-os em um pote fechado hermeticamente.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

VÍTIMAS CULINÁRIAS 3: Beignets Soufflés (Updated)







Apesar do nome muito bonitinho e difícil de pronunciar para alguns (diz-se "benhês"), nada mais são que círculos de pâte à choux imersos em óleo quente. A não ser pela parte do bico de confeiteiro, o processo é muito MUITO simples. Mas sim, ainda estamos no tão temido reino da fritura, e continuaremos nele por mais algum tempinho ainda. Resolvi fazê-los hoje porque vamos receber a visita de meus sogros, e é sempre bom compartilhar gordura. Hehehe... Brincadeiras à parte, eles ficaram divinos, perfeitos para acompanhar sorvete (como sugere o livro) ou um simples café, como será o caso hoje.

Tecnicamente, você não precisa do bico de confeitar. Acredito que não haja problemas em derramar a massa às colheradas pequenas no óleo. Mas quis tentar deixá-los mais simpáticos e segui o método mais complexo. Estendi uma folha de papel-manteiga sobre uma assadeira e, com a ajuda de um cortador de biscoitos de 5cm, desenhei à lápis alguns círculos para que me servissem de guia na hora de formar os anéis de massa. Então levei ao congelador por 1 hora, para que firmassem e pudessem ser manipulados em direção ao óleo quente sem que se desmanchassem no caminho. No entanto, quando virei o primeiro beignet no óleo, pensei ter avistado um fio de cabelo grudado à massa e entrei em pânico. Quando me aproximei para olhar, porém, dei-me conta de que se tratava do traçado a lápis que eu fizera no papel e que se transferira para a o anel. F*ck. Saibam desde já: virem o papel do avesso antes de seguir as linhas com o bico de confeitar.

Como a receita que usei é exatamente a do livro, não a colocarei aqui. Mas se quiser produzir os beignets (também chamados de doughnuts franceses), use sua receita favorita de pâte à choux, mas, se a receita pedir água, troque por leite integral. Dobre a quantidade de sal e use o mesmo peso em açúcar. Coloque a massa fria no saco de confeitar com bico em forma de estrela e trace os círculos no papel vegetal. Congele por 1 hora. Frite em óleo vegetal a 170ºC até que inflem e dourem, e deixe que esfriem sobre papel absorvente. Quando frios, role-os em açúcar cristal.

[UPDATE: Frite, passe no açúcar e coma o quanto antes, pois eles logo ficam murchinhos. Ao contrário dos doughnuts que podem ser guardados na geladeira por um ou dois dias, os beignets não se conservam bem, perdendo toda a sua consistência firme. Segundo Allex, os que ele comeu ainda quentes estavam sensacionais. Mas isso não nos impediu de acabar com todos, mesmo murchinhos...]

sábado, 19 de janeiro de 2008

VÍTIMAS CULINÁRIAS 2: quando só nossas artérias se entopem





Primeiro, um amigo do Allex viria jantar em casa. Mas ninguém combinou nada ao certo. Depois, minha mãe viria aqui. Também não veio. Então iríamos na casa de outro amigo, e eu levaria os doughnuts de presente. Não, também não foi dessa vez. E cá está mais um Vítimas Culinárias sem vítima nenhuma a não ser nossos pobres corpos entupidos de fritura e açúcar, sem ninguém para dividir o peso da junk food.

Mas doughnuts de novo?, vocês me perguntam. Sim, pois eram a receita seguinte no livro, e porque tinham um preparo diferente: enquanto os primeiros eram feitos como pães, com fermento biológico, esses são preparados como bolo. Parece mais fácil, não? De fato, nada como colocar tudo na batedeira e ter massa para doughnut em menos de dez minutos, sem a trabalheira de sovar e o tempo de espera durante a fermentação. No entanto, a vida é um sistema de compensações. O que você prefere: uma massa demorada fácil de manipular ou uma rápida e impossível?

Depois de alguns desastres ocasionados por contas feitas às pressas, adquiri o hábito de checar duas ou três vezes as medidas antes de começar. E estava tudo certo. Bata na batedeira e forme um retângulo sobre a bancada, deixando que descanse por 15 minutos. Alguém consegue imaginar um ser humano normal formando um retângulo com, vejamos, massa mole para cookie? Há! Eu também não. Ainda assim, com a ajuda de uma espátula e muita farinha na bancada, o retângulo estava feito. E quando o abri com o rolo de macarrão, 15 minutos demais, parecia tudo perfeito demais para ser verdade. Será que naquele pouco tempo de descanso a massa mudara de textura??

Apanhei meu cortador e tirei-lhe o primeiro doughnut, exatamente como fizera da outra vez. Quando puxei o cortador, veio junto uma massa disforme, ainda agarrada à bancada, em nada semelhante a uma rosca ou qualquer coisa remotamente pronta a ser jogada em óleo quente. Tentei novamente, pois a teimosia impera. Mesmo resultado.

Xinguei um pouco, juntei toda a massa numa bola novamente, nem um pouco surpresa ao ver que a parte de baixo dela estava todinha grudada no granito enfarinhado, e comecei a acrescentar farinha indiscriminadamente, até que tudo tivesse uma consistência minimamente adequada para ser cortada.

Abri-a novamente, cortei-a, deixei que os doughnuts relaxassem por mais quinze minutos e fritei-os a 193ºC, como indicado.

As duas roscas desmilingüidas, feitas com a massa original, inflaram rapidamente, e quase dobraram de tamanho, enquanto as outras, com o acréscimo de farinha, cresceram menos, ficando aparentemente mais densas e pesadas (óbvio).

Antes de qualquer julgamento, deixei que esfriassem enquanto almoçava fora, com Allex. Quando voltei, encharcada dos pés à cabeça por causa da chuva que nos surpreendera na volta, sapatilhas de camurça arruinadas, terminei de rechear os bolinhos redondos com creme de confeiteiro e, ao invés de cobrir tudo com açúcar ou ganache, como antes, resolvi testar o glacê para doughnuts do livro, feito com glucose, gelatina, baunilha e açúcar (dissolva 3g de gelatina em pó em 70g de água fria, aqueça para dissolver tudo e misture 300g de açúcar de confeiteiro, 15g de glucose ou mel e 2g de essência de baunilha). Mergulhei os doughnuts frios no glacê morno, e deixei-os sobre a grade, para que pingasse o excesso e o glacê endurecesse. Ele de fato deu um brilho muito bonito aos doughnuts, melhorando um pouco sua aparência menos perfeita que a da primeira receita.

Definitivamente, apesar de serem mais rápidos de serem produzidos, eu não pretendo fazê-los novamente. Fico com a receita mais trabalhosa, que dá resultados mais certeiros. No teste da mordida, as duas roscas feitas com a massa impossível ficaram muito muito leves, enquanto as enfarinhadas ficaram densas como um bolo inglês, mas não menos saborosas. Continuo gostando mais da textura dos yeast-doughnuts, no entanto. Sem entender como uma pessoa em suas plenas faculdades mentais quereria repetir a receita da massa mais grudenta e menos manipulável do mundo, não vou publicá-la aqui, a não ser que um tal louco indivíduo peça por ela. O glacê, no entanto, é ok, mas eu faria com mel da próxima vez e tentaria outros aromas, para variar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

VÍTIMAS CULINÁRIAS 1: Doughnuts!!

Ok, esse é o primeiro Vítimas Culinárias, mas começou sendo justamente um crime sem vítimas. Hoje Allex acordou chumbado de gripe, com febre, e acabou ficando em casa. Então, nada de chamar ninguém aqui para comer doughnuts, mas eu simplesmente precisava fazê-los, como mera tentativa de deixar o marido de melhor humor.

Bom... a técnica funcionou.

Doughnuts são muito mais fáceis de se fazer do que imaginava. [É claro que sou obrigada a lembrá-lo de que costumo fazer grande distinção entre o que é difícil e o que é trabalhoso.] A massa é simples, com ou sem batedeira com gancho. Ela é inadvertidamente grudenta, no entanto. Mas depois do brioche, toda vez que me deparo com receitas de medidas exatas que produzem massas grudentas, eu resisto à vontade histérica de sair colocando xícaras inteiras de farinha e tento trabalhar a danada da melhor forma possível, mesmo que metade dela termine grudada em meus dedos. E esse é bem o caso da massa-desgraçada-que-não-quer-sair-do-meu-dedo. O importante é não desesperar, e tentar de alguma forma depositar a massa (desencane da idéia de transformá-la numa bolinha perfeita) em uma tigela enfarinhada para que fermente; tudo com a certeza de que, após fermentada, a massa será completamente manipulável (e será, eu garanto!).

Fora esperar uma fermentação de uma hora e meia, não há muito trabalho envolvido. Em uma batedeira, resolve-se a massa em 8 minutos. Enquanto fermenta, você limpa a batedeira e vai ler um livro. Passado o tempo exato, basta estender a massa (ela estende de forma surpreendentemente fácil e não gruda no rolo) e cortá-la com um cortador de biscoitos, um copo, ou qualquer coisa disponível. As rebarbas de massa podem ser reamassadas, reestendidas e cortadas novamente. Então deixam-se os doughnuts pálidos e desmilingüidos fermentando novamente. Enquanto isso, aqueci o óleo de canola. Em uma panela pequena, pois, já que não posso fritar vários de uma vez, para que a temperatura do óleo caia, não faz sentido usar uma quantidade abissal de óleo em uma panela grande.

Aí entra minha quinquilharia nova! É incrível como a vida torna útil objetos que sempre consideramos completamente estúpidos. Eu nunca — NUNCA — pensei que seria o tipo de pessoa que tem um termômetro para doces. Pois é. Mas agora eu sou. Fiquei tão encafifada com a receita dos doughnuts, não querendo estragá-los justamente nos 45 do segundo tempo, que corri para comprar um — incrivelmente barato — termômetro de doces, que pode ser usado em óleo quente também. Testei-o, como manda a embalagem, em água fervente, e fiquei feliz feito criança ao vê-lo marcar 100ºC. Desta forma, pude manter a temperatura do óleo a exatos 190ºC o tempo todo, garantindo doughnuts uniformemente dourados, com interiores cozidos à perfeição e bastante sequinhos. Principalmente, tive certeza de que teria dado tudo errado sem ele, pois fiquei muito surpresa ao ver quanto tempo demorou para que o óleo atingisse a temperatura certa. Eu teria jogado os doughnuts lá dentro na metade da temperatura, e teria produzido uma batelada de frituras encharcadas e mal cozidas. Adorei meu termômetro: tenho vontade de ferver até a água do macarrão com ele!

Na hora de cortar os benditos, entretanto, eu só tinha à disposição um cortador redondo que viera de brinde há séculos numa revista. E, na espessura que eu abrira a massa (1cm), ele produzia doughnuts de 35g, quando eu precisava de 45g. Tive, então, de recalcular o tempo de fritura, e reduzi-o de 2 minutos e meio para 1 minuto e meio.

Você pode, com os doughnuts fritos e já frios, fazer como vovó fazia com bolinhos de chuva, e simplesmente rolá-los em açúcar e canela. Mas nãaaaaao... Ana Elisa gosta de complicar. Como os favoritos de Allex são a rosca simples, com cobertura de chocolate, e o doughnut recheado de baunilha, cortei-os nos formatos certos (usando o descaroçador de maçãs para cortar o furo menor no centro da rosca), recheei de crème pâtissière os redondos (rolando-os no açúcar em seguida) e mergulhei na ganache de chocolate amargo as roscas.

Todo o trabalho com certeza compensou, ao ver o marido levantar da cama para comer os doughnuts e responder de boca cheia:

"Você está f*dida..."
"Por quê????"
"Porque isso ficou muito bom, e você vai ter que fazer sempre..."


DOUGHNUTS
(Ligeiramente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 30 min. + 2h de fermentação + 20 minutos de fritura
Rendimento: 10-12 doughnuts


Ingredientes:
  • 120g de água morna
  • 4g de fermento ativo seco instantâneo
  • 25g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 30g de açúcar
  • 4g de sal
  • 1g de noz-moscada ralada
  • 10g de leite desnatado em pó
  • 30g de ovo
  • 220g de farinha de trigo especial para pães
Preparo:
  1. Misture o fermento com parte da água e reserve.
  2. Bata a manteiga, o açúcar, o sal, a noz-moscada e o leite em pó até que fique homogêneo, mas não até afofar e ficar claro. Junte o ovo e misture bem.
  3. Acrescente o fermento e o restante da água e misture brevemente, incorporando a farinha até que forme uma massa uniforme mas ainda grudenta (na batedeira, 8 minutos em velocidade 2).
  4. Coloque em uma tigela enfarinhada e deixe fermentar por 1 hora e meia.
  5. Afunde a massa com o punho para retirar-lhe todo o ar e estenda-a com um rolo em uma superfície enfarinhada até a espessura de 1,2cm. Deixe a massa descansar por 5 minutos. Com um cortador de biscoitos, corte 10 círculos de 45g, aproveitando o espaço o melhor possível. Amasse novamente as rebarbas, estenda e corte novamente até tê-la utilizado toda. Se quiser roscas, corte um buraco menor (1-2cm) no centro e amasse essas rebarbas com as outras para reestender e cortar. Cubra com um pano e deixe fermentar até quase dobrar de tamanho.
  6. Enquanto isso, aqueça o óleo a 190ºC.
  7. Deposite com cuidado os doughnuts no óleo quente, de dois em dois, fritando-os por 2 minutos e meio, e virando-os 1 vez na metade desse tempo. Retire, deixe pingar o excesso de óleo e deixe que esfriem em uma única camada, sobre papel absorvente. Espere que esfriem completamente antes de rolá-los em açúcar, caldas ou recheá-los.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Hard Rolls, ou os pãezinhos de couvert que começarão uma saga de panificação e confeitaria




Somos um casal de ermitões preguiçosos, isso com certeza. Não trocamos uma noite de pijamas no sofá por nada. E o fato de agora as baladas só terem gente com 10 anos a menos que eu não me anima muito. No entanto, ficar sentado no sofá de pijamas numa sexta-feira à noite não é a coisa mais saudável que um casal ainda nos seus vinte e tantos anos pode fazer (ainda que este seja meu último ano na casa dos vinte...) Decidimos que não queremos ser, nem quando jovens nem quando velhos, um daqueles casais que se bastam, que vêm os amigos apenas em aniversários, e que não sabem nem mais aonde ir quando decidem sair para tomar um chopp. Não, não, não. Éramos duas pessoas muito sociáveis na faculdade, e não podemos deixar o conforto de nosso lar e a preguiça pós-dia-intenso-de-trabalho falar mais alto. "Precisamos chamar mais gente aqui em casa", disse ele. "A gente chamou muito pouca gente esse ano. Moramos aqui há 2 anos e tem gente que nem conhece o apê." Concordei com ele, e já no mês passado começamos a tentar mudar essa nossa tendência à clausura, que vem também do fato de eu ter muito pouca paciência com gente.

Neste fim-de-semana fiquei pensando, olhando para meus livros, sem ter o que cozinhar, tendo pão na bancada, resto de risoni e bolo de chocolate duro feito pedra, depois de uns dias no refrigerador. Se há uma área da gastronomia que me empolga sobremaneira é patisserie. Mesmo que nunca chegue a de fato trabalhar produzindo bolos, éclairs e afins, é algo que eu QUERO saber fazer direito, que eu TENHO que aprender a fazer direito. Ainda que meu paladar vá muito mais para o lado salgado da coisa (prefiro um pão de queijo a um pão de mel), o que eu GOSTO de fazer são doces. Gosto de técnicas mais difíceis, ainda que muitas vezes a preguiça vença ou vença a lógica, que me diz que não posso fazer uma sobremesa gigante se é apenas para mim e para Allex e ele não tenha o hábito de comer sobremesas.

Como conciliar, então, minha vontade de esmiuçar o mundo das sobremesas (em especial meu livro favorito, Professional Baking) e o fato de que não posso comer sozinha bolos e charlottes inteiras se não quiser virar uma aberração de circo?

"Allex?"
"Quê?"
"Lembra aquilo de a gente tentar chamar gente em casa toda semana?"

"Ahn..."
"Tive uma idéia!"

"O quê?"

"Quero fazer uma sobremesa nova toda semana para treinar técnicas que ainda não sei. Mas eu sei que você não vai me ajudar a comer tudo. Então faz assim: eu te aviso que vou preparar o doce e você (ou eu) convida alguém para vir aqui em casa e comer. Pode até ser franco e dizer ´A Ana está experimentando uma receita nova e pediu para chamar alguém de cobaia´. Que tal?"
"Ah, pode ser...", respondeu, imerso no video-game.
E, hoje, domingo, comendo pastel na feira:
"Ô, vamos dar um nome para esse negócio das sobremesas: ´Projeto Vítimas Culinárias´!!"

Ter marido engraçadinho é fogo...

Vamos ver se dá certo desse jeito. O que der para fazer porção pequena ou individual fica mais fácil para só nós dois consumirmos, mas com certeza precisarei de ajuda para comer coisas maiores e mais complicadas. É também sossegado na vez dos biscoitos, pois eles são facilmente "distribuíveis" ou pode-se fazer uma quantidade pequena. Não tem jeito, só vou aprender colocando a mão na massa. Bolo de liqüidificador é gostoso mas não satisfaz o meu lado exibicionista.

Outra decisão é fazer um pão diferente por semana pelo menos, conforme o tempo livre. Um livro por vez. Não é nenhum desafio ou algo que vá me deixar triste se não conseguir cumprir. É apenas um jeito de aprender mais sem ter que me matricular num curso de confeitaria e panificação. Prefiro gastar meu dinheiro em livros e quinquilharias.

Começo hoje, com o Professional Baking, que é o livro que me dará base "científica" para depois seguir para outros livros com receitas menos rígidas. A parte de pães é simples, é só seguir a ordem do livro. Ainda não criei, no entanto, um esquema para os doces, uma vez que eles estão separados em bases, molhos e recheios, e depois receitas completas de bolos e sobremesas usando aquelas bases e molhos, mas não todas. Não sei se vou direto para as receitas completas ou se vou fazendo experiências com as partes picadinhas... Hum... algo a se pensar. Também tem toda a coisa da sazonalidade... Claro, pulo as receitas que já tenha feito com sucesso, como é o caso do Panettone, e repito apenas as que acredito que poderiam ter dado mais certo.

Bom, veremos se ao fim do livro serei uma cozinheira mais experiente ou mais louca de pedra.

Como domingo é um dia mais sossegado, fica sendo o dia em que publicarei as experiências com os pães. Para dar o pontapé inicial, Hard Rolls, ou pãezinhos de couvert de casca grossa. Tive de fazer pequenas adaptações pois a receita original pedia fermento fresco e gordura hidrogenada; do primeiro eu não tinha, do segundo eu não uso. Ficaram ótimos, aprovados pelo marido, ainda que ele tenha achado que poderiam ter ficado um pouquinho menos no forno. Detesto quando ele fala essas coisas, pois o pecado desse livro é não dar um tempo exato de forno, já que os pães podem ser moldados no tamanho que você quiser...

HARD ROLLS
(Ligeiramente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 2 h30min

Rendimento: 12-14 pãezinhos


Ingredientes:
  • 350g de farinha para pães ou farinha de trigo especial orgânica
  • 190g de água morna
  • 5g de fermento ativo seco instantâneo
  • 7g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 7g de açúcar
  • 7g de clara de ovo
Preparo:
  1. Misture o fermento com um pouco da água e deixe quieto por dez minutos, até que comecem a aparecer bolhas na superfície.
  2. Em uma tigela ou na tigela de uma batedeira planetária, misture o resto dos ingredientes. Junte o fermento e o resto da água e bata na batedeira com gancho por 10 minutos na 2ª velocidade ou sove até que a massa esteja macia e lisa. Cubra com um pano e deixe fermentar por 1 hora em local a 27ºC.
  3. Soque para retirar o ar e divida a massa em bolinhas de 45g. Sobre uma bancada não enfarinhada, forme bolas. Coloque-as com o lado mais liso para cima sobre uma assadeira grande polvilhada de fubá, afastadas 5cm uma da outra. Se quiser, role-as sob as palmas para deixá-las ovaladas.
  4. Pincele com água, cubra com um pano e deixe fermentando novamente até que dobrem de tamanho.
  5. Pincele com água novamente, e, nos pãezinhos ovais, faça 1 corte longitudinal ou 2 ou 3 cortes no sentido da largura. Leve ao forno pré-aquecido a 230ºC por 20-30 minutos, até que estejam dourados e assados. Deixe que esfriem sobre uma grade.

Cozinhe isso também!

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